quarta-feira, 27 de abril de 2011

PROMESSAS!

A ética da convicção versus a ética da responsabilidade
Fevereiro 6, 2007
Por Egidio Vaz Poder Politico

O ingresso na carreira política gera um dilema fundamental para políticos: seguir a sua convicção pessoal ou tomar decisões impostas pelas circunstâncias. Em muitos casos, os eleitores acusam os governantes e legisladores de serem traidores ou oportunistas, figuras que, uma vez eleitas, se esquecem das suas promessas ou, nalguns casos, o que escreveram.

Isso ocorre, do ponto de vista político, porque as decisões desses políticos não são tomadas livremente. Muito pelo contrário, o político precisa de ter em conta uma série de condicionamentos que tornam impraticáveis certas acções que correspondam a um juízo de valor pessoal.

Para entendermos o que é ética de convicção e ética de responsabilidade, precisamos de alguns esclarecimentos preliminares.

A noção de ética

A discussão sobre ética remonta a Antiguidade grega. Naquele período, filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles buscavam produzir um conhecimento capaz de fornecer respostas absolutas para todos os tipos de questionamento humano.

Na sua obra clássica intitulada Ética a Nocômaco, Aristóteles sistematizou padrões de comportamento ético no relacionamento entre os cidadãos. Para ele, a principal forma de exercitar o comportamento ético era através do diálogo. Nos diálogos, os cidadãos exercem a arte do contraditório, na qual as frases emitidas possuem um padrão de verdade e mentira.

Max Weber, estabeleceu, em princípios do século XIX, a distinção entre a ética da convicção e ética da responsabilidade.

Para Weber, quanto maior o grau de inserção de determinado político na arena política, maior é o afastamento das suas convicções pessoais e adopção de comportamentos orientados pelas circunstâncias.

Este afastamento de crenças e suposições pessoais e a adopção de medidas, muitas vezes contraditórias, é determinado pela ética da convicção e pela ética da responsabilidade.

A ética da convicção é, para Weber, o conjunto de normas e valores que orientam o comportamento do político na sua esfera privada. Já a ética de responsabilidade representa o conjunto de normas e valores que orientam a decisão do político a partir da sua posição como governante ou legislador.

Tomemos como exemplo, o caso de um governante que tenha a convicção pessoal de que é necessária a redução de impostos. Esse governante pode ter realizado uma campanha eleitoral focalizando esse tema e essa necessidade: redução da carga tributária, conforme suas crenças particulares. Porém, uma vez governo, depara-se com a escassez de recursos financeiros para atender à serviços básicos como a segurança social, educação, saúde, etc.

Perante esse dilema, o governante precisa de tomar uma decisão: ou seguir uma norma particular (ética de convicção), e reduz os impostos sabendo que vai faltar dinheiro para o Estado cumprir com as suas responsabilidades; ou toma uma outra medida, como governante (ética de responsabilidade), mantendo ou elevando os impostos para daí viabilizar recursos necessários para o normal funcionamento do Estado.

A distinção proposta por Weber entre convicção e responsabilidade traduz um dilema que certamente aparecerá nalgum estágio da carreira de qualquer político. Tal distinção permite aos eleitores e analistas, uma compreensão mais elevada dos meandros do mundo político.

Porém, é muito importante ter em mente que a distinção não significa uma carta em branco para que os políticos traiam as suas promessas; ela apenas reconhece a necessidade de adaptação às circunstâncias.

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